segunda-feira, 19 de março de 2012

Suplemento Literário - Jornal do Gauss 2

Ira
(Beatriz Ikeda – Gerontologia na Ufscar)

Era Ira, não a Iracema dos lábios de mel. Era só Ira.
A menina das vestes surradas, pés sujos e cabelos mal penteados. Que nasceu sem um teto e agora é acolhida pelas estrelas.
Corre mais rápido do que um tigre em meio a becos para fugir da polícia, devido ao roubo de um pão, pois ninguém lhe dá de comer.
A garota revoltada com a sociedade que, ao invés de lhe ajudar, simplesmente a marginaliza.

Mãos estendidas
(Beatriz Soares – Ed. Física na Unicamp)

As mãos estendidas abrem-nos o pensamento para refletirmos sobre o tanto o que podem expressar.
Parecem mãos que ajudam, mãos que de ajuda necessitam. Mãos que dão ou que querem receber.
Mãos calejadas pelo trabalho árduo e irreconhecido durante toda a vida. Agora, recolhem as lembranças que lhes cabem - cada calo uma história, cada história uma saudade e a cada saudade a esperança de um dia chegar ao término da vida e saber que estas mãos, que por diversas vezes já acalentaram, corrigiram, espalmaram, chegarão a ter no leito social e familiar o descanso merecido e esperado, e não ficarão pelas filas burocráticas da vida aguardando a sua vez de serem recompensadas, enfim, pelas mãos do destino.



O homem e o violoncelo
(Daiane Damaris – Fonoaudiologia na Unesp)

Mesmo estando em uma grande cidade, sentado em uma ponte a mostrar sua arte, ninguém parou para ouvi-lo, ou melhor, ninguém teve tempo, e por esse motivo não notaram a sua canção.
A noite caía e ele continuava a tocar seu lindo e sereno violoncelo, e as únicas que lhe pararam para lhe fazer companhia foram a tristeza e a solidão.

A sociedade e suas mentiras
(Jéssica de Almeida – Administração na FEI)

Desde seu nascimento, Vitória fora ensinada a ser verdadeira. Em sua casa mentir era o maior pecado.
No período escolar, Vitória preferia entregar as avaliações em branco a colar. Mesmo quando tentava contar uma pequena mentirinha, era como se algo a travasse, lembrando-lhe do que seus pais lhe diziam.
Evitava até visitar pessoas doentes, pois não conseguia fazer uso do código ético e tentar ser delicada. Para ela, mentira sempre era mentira, não importando se era para o bem ou para o mal.
Amigos foram se perdendo. E Vitória se via sozinha. Nem seus pais suportavam tanta sinceridade. Eles, que a ensinaram a não ser hipócrita, já não a toleravam.
Vendo-se nesta situação ela resolveu ser agradável. Passou a sempre elogiar as pessoas para ser gentil. A dizer constantemente o que todos gostavam de ouvir.
Sua credibilidade estava cada vez maior diante da sociedade daquele município. Seu nome agora concorre à prefeitura da cidade. Afinal, suas mentiras são o que a população quer escutar.


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