segunda-feira, 12 de março de 2012

Suplemento Literário - Jornal do Gauss 1

Identidade Nacional

(João Zidane – Filosofia na Unifesp)

Esquindô, esquindô, segue a mulata sambando sob o som transcendental
Aparentando profunda hipnose, alegria, pois todo ano é carnaval.
Esquindô, esquindô, lá vem a mulata de muitas faces mostrando sua arte
E fazendo o que sabe bem
Porque onde existe alegria a tristeza não convém.
Esquindô, esquindô, é carnaval, é futebol
E sob efeito hipnótico todo sonho vira pó.
Esquindô, esquindô, a mulata dança conforme a música
É uma regra, é um jogo
É uma parte de um todo.
Esquindô, esquindô, e a mulata não dormiu
Sonhou um ano inteiro
E em quatro dias esse sonho fugiu.
Esquindô, esquindô, quando tudo acabou a mulata não chorou
Sabia que tinha que voltar para a realidade
Mas no fundo ela entendia que essa não existia de verdade.
Esquindô, esquindô, o show ainda não acabou
Esse ano ainda tem mais
Tem samba e futebolE a mulata se refaz.
Esquindô, esquindô, tudo aconteceu e ninguém viu
A mulata no sambódromo
O futebol é bola no pé
E assim se faz o Brasil.


Conflito

(João Gilberto – Professor de Filosofia, formado pela São Judas)

O político deu lugar ao pensante...
O racional deu lugar ao emocional...
O homem se dividiu em dois
E deixou a sociedade para depois!

E não adianta apenas criticar
Pois as palavras não vão mudar
O mundo que devemos construir
E toda a insensatez que devemos destruir.

E a liberdade deu lugar à introspecção;
E o sentimento tomou o lugar da razão;
E tudo deve estar em seu lugar...
Pois outra luta irá começar...

Cemaria, a nova Iracema

(Anderson Godoy – Letras na USP)


Perto, muito perto do pé daquela serra, Cemaria nasceu, onde o horizonte cinzento nunca desanuviava. Cemaria morava na desmatada ex-mata.
Cemaria que corria como ligeira cotia, ganhava vida de maneira sofrida. Nada de mel corria dos lábios de Cemaria. Cemaria corria para criar suas crias. Cemaria... Rodava bolsa de noite e lavava roupa de dia. Os pés grossos de Cemaria, que nunca viram sapatilha, andavam pelos campos de algodão... re-colhendo seus sonhos.

Rios de muitas vidas


(Daniel Moura – Psicologia na USF)


Numa folha qualquer eu desenho um rio que me leva. E me leva a flutuar. Vou indo sempre bem devagar no meu barquinho a velejar Com lindos peixes coloridos a me acompanhar E muitas flores, árvores e aves a me rodear. Muitas vezes as grandes cachoeiras fazem meu barco virar Nado contra a força dessas águas que tentaram me afogar. Penso que meu objetivo preciso alcançar e nado, luto. Resisto e de volta ao meu barquinho continuo a navegar Fico triste, com frio, não consigo respirar "Navegar é preciso". Minha vida não pode parar.

Anéis dourados


(Bruna Garcia – Letras na Unicamp)

O sol brilhava iluminando a grande fila de automóveis que se formava na Avenida Central da cidade. Dentro de um carro preto, uma pessoa angustiada e saturada tentava se acalmar ouvindo Marisa Monte enquanto uma aliança reluzia em seu dedo, talvez pedindo mais uma chance. Ao passar pelo semáforo e avistar outra certa aliança saindo do escritório, o pé calçado em uma belíssima sandália pisou no acelerador e as mãos de unhas compridas e vermelhas giraram o volante na direção da calçada, sem culpa, atingindo o causador de tanto sofrimento. Finalmente acabava, e o que restou da vida que levaram são apenas anéis dourados sem sentido.

Naquele dia, enquanto senhoras inglesas tomavam seus chás, a vida de uma mulher mudava totalmente.

Roubando, roubandinha

(Paloma Rodrigues – Fisioterapia na UNESP)


Roubando, roubandinha,
Vamos todos roubandar
Inventar uma mentira
Para o povo alegrar.
O voto que tu me destes
Era tolo e te ferrou
A palavra que eu tinha
Era pouca e se acabou.

Por isso, povo bobo,
Fique bem alienado
Assistindo à tua tv
Quietinho e sentado

Se você se revoltar,
nós vamos te excluir.
Pois só é bem sucedido
Quem aqui sabe mentir

Arquivo morto

(Beatriz Soares – Ed. Física na Unicamp)

Na correria do dia não fiz nada de concreto e à noite (entardecer da vida) restam-me as feridas provocadas pelo nada que fiz o dia todo. Ao amanhecer, novas perspectivas? Não, tenho as marcas, mas já cicatrizaram-se, para eu voltar à correria do meu dia. Que posso guardar na memória? Pois tanto me cansei, até ferido fiquei, e nada fiz que valesse ser lembrado. Chego a pensar que fui apenas peça fundamental num sistema, pronto, já posso ser arquivado.

Estação da vida

(Camila de Moraes – Matemática na USP)

Bem-vindo(a)! A entrada é por aqui. É preciso aguardar nove meses. Seu passaporte está pronto. Embarque na Estação da Vida! Quanta gente. Esta é a sua mãe, aquele é seu pai. O homem de branco que acendeu a luz. Atenção! Acuidade é necessária. Mundo novo à vista. Trabalho de parto foi a primeira conquista. Pessoas diferentes, estradas inconsequentes. Duas direções. Esquerda ou direita? Se fosse você não pensaria duas vezes. Planeta estranho. Ser mata ser da mesma espécie. Crueldade é o esquema da cidade. Pobre e rico. Opostos nem sempre se atraem. Se a cidade é bonita? Não importa. A essência da vida não é a beleza e sim quem faz. Somente a riqueza é movida por nós. Muitos carros na avenida, poluição no ar. O cotidiano na cidade parece nunca parar. A diplomacia do mundo não é mais aperto de mão. Os raios solares não iluminam a solução. A Lua só traz perdição. A paz emerge no exílio do coração. Guerras circulam em torno da razão. Ei, a saída é por aqui! A visita à Terra finalizou. Duração? Uma vida inteira. Experiências? Um prazer constante que levou à morte.

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